Comissão de autoridades em geologia do
Serviço Geológico do Brasil realizou um levantamento do potencial da região e
constatou que a área está pronta para apresentar a sua candidatura à Rede
Mundial de Geoparques
A região do Lajedo de Pai Mateus, no
Cariri paraibano, está cogitada para ingressar na Rede Mundial de Geoparques.
Deverá ser o segundo no Brasil, junto com o Geoparque Araripe, no Ceará. Na
semana passada, uma comissão de autoridades em geologia do Serviço Geológico do
Brasil realizou um levantamento do potencial da região e constatou que a área
está pronta para apresentar a sua candidatura à Rede Mundial de Geoparques, que
reúne 111 no mundo, em 31 países. Os pesquisadores encontraram na Bacia
Terciária de Boa Vista uma pedra rara, tipo de ‘rocha vítrea’ que não existe em
nenhum outro lugar do Brasil (pillow lavas, que se resfriaram rapidamente na
água). A equipe vai encaminhar imediatamente ao Ministério Público Federal
(MPF) um pedido de proteção da área.
A princípio, a delimitação do
geoparque de Pai Mateus irá englobar o complexo Pai Mateus, o Sítio Bravo, a
Bacia de Boa Vista, a Muralha do Cariri e o Cânion Rio da Serra. A área total
deverá chegar a 12 mil hectares que, somados aos 18 mil hectares da Área de
Preservação Ambiental (APA) do Cariri, ampliará a área preservada para 30 mil
hectares. A delimitação final está sendo estudada pelos representantes do
Serviço Geológico do Brasil (Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais –
CPRM), mas a importância científica, arqueológica e paleontológica, segundo
eles, é inquestionável.
“Eu vim aqui para passar por um teste,
pois antes mesmo de ir a fundo em pesquisas científicas, costumo avaliar da seguinte
forma: o que eu estou encontrando aqui me surpreendeu a ponto de eu ter vontade
de permanecer por mais tempo? E a resposta nesta expedição é sim, seguramente.
Esse local merece e precisa estar inserido em uma rede mundial de geoparques”,
afirmou o coordenador nacional do Projeto Geoparques do Serviço Geológico do
Brasil (Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais – CPRM), Carlos
Schobbenhaus.
7 mil visitantes só este ano
O Lajedo de Pai Mateus faz parte da
Área de Preservação Ambiental (APA) do Cariri e é roteiro de turistas nacionais
e estrangeiros há mais de 15 anos, sendo que neste ano já recebeu cerca de 7
mil visitantes, segundo Romero Alves condutor de turismo local. Mas o que está
em relevância agora é a concentração de aspectos geológicos nesta área. “O
complexo Pai Mateus e Sítio Bravo reúne fósseis, inscrições rupestres, formas
geológicas como as raras pillow lavas e a geodiversidade é impressionante”,
salientou o pesquisador da Universidade Federal da Paraíba, Leonardo
Figueiredo, que acompanhou a comissão da CPRM.
A preservação e o uso sustentável
desse ambiente é um dos principais critérios para a formação de geoparques, de
acordo com Schobbenhauss. “A necessidade de conservar os geossítios, os lugares
de interesse geológico que servirão de base para o conhecimento e educação para
as comunidades estão entre os quesitos. Os moradores devem ser os beneficiados.
A Rede Mundial de Geoparques tem o apoio da Unesco e esta instituição trabalha
programas ligados à biodiversidade, à cultura, ao patrimônio. Estes aspectos
também são considerados”, explicou.
O geólogo Marcos Nascimento, da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) está à frente do mesmo
processo de formação de geoparque no Seridó (RN) e integrou o grupo da CPRM em
visita à Paraíba. “A formação do geoparque aqui na Paraíba está muito
adiantada, pois está tudo pronto: conservação, infraestrutura turística e,
especialmente, o turismo pedagógico, que é grande”, disse. E complementou:
“Nosso trabalho é dar uma interpretação ambiental da geodiversidade em uma
linguagem que o turista compreenda, sem o “geologuês”. As pessoas pensam que
uma rocha não tem vida, mas de um jeito ou de outro, elas manifestam a
movimentação de inúmeras formas de vida e o processo de formação do próprio Planeta
Terra”.
Pillow lavas na Bacia de Boa Vista
O arqueólogo Djair Fialho, originário
do Cariri, recebeu a comissão da CPRM e percorreu a região com os pesquisadores
durante quatro dias. Além de trilhas pelos lajedos do Bravo, Salambaia, Sacas
de Lã, Manoel de Sousa, Pai Mateus, Muralha do Cariri e pelos cânions do Rio da
Serra, o arqueólogo chamou a atenção da comissão para a Bacia Terciária de Boa
Vista.
A área é rica em
bentonita, um minério usado na fabricação 107 produtos, entre eles, tintas e
protetores solares, entre outros produtos, e abastece 94% do mercado nacional e
alcança o mercado internacional tendo como clientes a Nasa, a Vale, a Coral
Tintas, a Petrobrás. Há quatro grandes empresas no local que manufaturam o
minério.
“Este local era um
pântano há 23 milhões de anos e existia uma cratera vulcânica que jorrava cinza
dentro desse pântano o que levou a formação do minério que temos hoje. Mas, a
vegetação também foi fossilizada e aqui encontramos árvores, folhas, e raízes
fossilizadas daquele período. Caso a exploração de bentonita se exceda, essa
riqueza paleontológica será perdida”, alerta Fialho.
Neste lugar a
comissão encontrou um derrame de pillow-lavas, o que nunca foi visto no Brasil
até agora. Após a comprovação do achado, o coordenador nacional do Projeto
Geoparques – CPRM, Carlos Schobbenhaus, garantiu que irá com urgência
protocolar junto ao Ministério Publico Federal um pedido de proteção da área. A
comissão fez um contato extra-oficial com a empresa que está licenciada para a
exploração desta jazida de bentonita, onde as pillow lavas foram encontradas,
demonstrando a importância científica da área e solicitou uma pausa na
exploração de minério.
“O local está
incluso na área do Geoparque de Pai Mateus e contamos com a conscientização dos
empresários para que possamos explorar a área cientificamente”, justifica o
arqueólogo.
Formação de
geoparques
O geoparque é uma
associação de geoconservação, de desenvolvimento sustentável, de geoeducação e
locais propícios para realização de pesquisas científicas. Em termos mundiais,
iniciou a formação em 1996 por meio de um grupo internacional associado que
depois formou a Rede Internacional de Geoparques e recebe o apoio da Unesco,
embora este ainda não seja um programa específico da organização. Quatro
parques europeus começaram trocar informações e conhecimento na área da
geologia (um francês, um alemão, um grego e um espanhol) com a preocupação de
transmitir o conhecimento geológico para a sociedade em geral. A partir de
então, outros parques começaram a expor suas especialidades até que, em 2014,
estão estabelececidos 111 geoparques em todo o mundo.
Segundo Carlos
Shobbenhaus, a grande vantagem do geoparque é ser uma área aberta. “Toda a
atividade local permanece, as pessoas continuam em seus sítios, levando a vida
normalmente”. O único requisito da Unesco é a existência na região de um
patrimônio geológico significativo, de importância nacional, que justifique a
conservação dessa área. É fundamental a integração da comunidade nesse processo
e o desenvolvimento sustentável dessas comunidades. Da mesma forma, a estrutura
de visitação é fundamental, como a construção de passarelas, guaritas,
iluminação noturna e a pavimentação das vias de acesso, especialmente a PB 160.
O próximo passo
será a produção de um relatório para enviar à Rede Mundial de Geoparques. Na
Paraíba, “iremos trabalhar para o reconhecimento de outros geossítios no
Cariri, como os Canions do Rio da Serra e a Muralha do Cariri”, ressalta Djair
Fialho. Até então, quatro geossítios são reconhecidos pela CPRM: os lajedos do
Bravo, Pai Mateus, Sacas de Lã e Manoel de Sousa.
Fonte:
JCP
Fotos:
Divulgação / Mano de Carvalho
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