Professores consideram os profissionais tecnólogos mais aptos a crescer na carreira do que os bacharéis da mesma área / Bruno Batista/ CNI.
A qualidade da formação técnica ainda
é considerada inferior à universitária pelo senso comum, e essa noção é
reproduzida por boa parte dos brasileiros. Entretanto, professores e
especialistas em áreas mais práticas, como em algumas de tecnologia, consideram
os profissionais tecnólogos mais aptos a crescer na carreira do que os
bacharéis da mesma área.
Segundo José Vagner, instrutor do
curso de Redes de Computadores da Escola de Informática do Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial (Senai) em São Paulo, há uma diferença muito grande na
qualidade dos alunos que fizeram curso técnico em relação aos do ensino
tradicional.
"Em redes de computadores nós
temos uma variedade muito grande de áreas de atuação. É um leque imenso de
oportunidades e tecnologias que os profissionais têm que conhecer e podem
atuar. E, dessa forma, o mercado de trabalho e as empresas exigem uma grande
flexibilidade. Eu trabalho também como professor universitário e consigo ver
essa diferença entre o técnico e o aluno da escola normal, até mesmo em relação
ao crescimento nas empresas. Para os alunos de formação técnica a curva de
crescimento é muito mais rápida", afirma o professor.
A Escola de Informática do Senai em
São Paulo oferece, além do curso técnico em Redes de Computadores, o técnico em
programação. Para Alexssandro Augusto Reginato, diretor da unidade de
informática, o diferencial é que os cursos têm uma carga prática muito grande.
"Os cursos são 'mão na massa',
como a gente costuma dizer. O aluno aprende fazendo, executando demandas de
projetos. Além disso, outro diferencial é que todos os cursos técnicos nascem a
partir de um Comitê Técnico Setorial, formado por representantes das
indústrias, ou seja, as pessoas das empresas que irão receber os nossos alunos,
no qual é feito todo um estudo para ver quais serão as competências e
habilidades abordadas", disse Alexssandro.
Trabalho
O supervisor de Avaliação Educacional
do Senai-SP, Fabrício Ramos da Fonseca, destaca que a demanda do mercado para
esses profissionais têm crescido muito, sendo relacionada com a produção de
cada região do país. "Por ter um perfil mais aplicado, o tecnólogo tem
papel estratégico dentro da indústria, principalmente no estabelecimento da
ligação entre o nível estratégico e o tático. Desta forma, a oferta dos cursos
caminha alinhada à demanda de cada estado e região. Cursos com baixa demanda,
usualmente, são descontinuados ou reformulados para se adequarem à necessidade
do mercado", explicou o supervisor.
O Senai São Paulo, por exemplo, atua
principalmente no preparo de profissionais para as áreas técnicas de alimentos,
automação, eletroeletrônica, automotiva, gráfica, processos ambientais,
mecânica, metalurgia, vestuário e plástico.
Histórias de vida
As possibilidades profissionais
oferecidas pela instituição se tornam cada vez mais abrangentes, principalmente
na área de tecnologia. Nas primeiras décadas de existência, entretanto, os
cursos do Senai abrangiam apenas as áreas de metalurgia, mecânica geral e
marcenaria.
O metalúrgico aposentado Eduardo Marin
se formou no Senai nos anos 1970. Ele relata que o curso foi muito importante
para sua profissionalização. Marin é peruano, veio para o Brasil pouco antes de
se formar no ensino secundário e prestou a prova do Senai por incentivo dos
parentes.
"Sou da época que tinha muito
serviço, eu me aposentei na profissão. A gente saía de uma firma e já arrumava
outro emprego rapidinho. Os anos 70 foram politicamente muito tristes, mas
economicamente teve o tal 'milagre' industrial, o que foi muito importante para
formar profissionais técnicos", relatou.
"O Senai era muito comentado,
muitos jovens queriam entrar porque o ensino era considerado excelente, com
professores aposentados que vinham da rede pública. Era uma saída, naquela
época, para as classes mais carentes, porque entrar na faculdade naquele tempo
é para quem tinha muito dinheiro", contou Marin.
Ele acredita também que os cursos
técnicos profissionalizantes do Senai ainda são poucos para a demanda do
Brasil: "Acho que deveria ter mais escolas profissionalizantes, dado o
tamanho do país. As indústrias estão sempre contratando".
O aluno Gustavo Wanderley da Silva se
forma neste semestre na primeira turma do novo curso de Tecnologia em
Mecatrônica Industrial, no Senai de Recife. O curso é um exemplo das inovações
tecnológicas na área industrial e das novas possibilidades profissionais dos
cursos técnicos.
"O curso é curto, mas bem
completo. Todas as cadeiras que a gente viu são as mesmas de cursos superiores.
Nessa região tem muitas oportunidades em indústrias para pessoas que fazem
curso de mecatrônica, o que facilita bastante a inserção no mercado de
trabalho. E o Senai tem nome até internacionalmente, ele dá suporte e te leva
para dentro da parte fabril”, opina.
Gustavo já é
técnico em mecânica, e por necessidade de um curso mais completo, decidiu
prestar mecatrônica. O estudante optou por criar a própria empresa e junto com
colegas coordena uma empresa de fabricação de máquinas para 3D, oferecendo seu
serviço para indústrias e outras fábricas. "A perspectiva de mercado é
boa, o futuro é bem promissor nessa área", concluiu.
Serviço
O Senai é uma instituição privada sem
fins lucrativos de capacitação profissional e é integrado à Confederação
Nacional das Indústrias (CNI). Os cursos oferecidos buscam a capacitação
profissional de jovens desde sua inauguração, em 1942, em diferentes
modalidades. A formação técnica, no entanto, é a marca da instituição, que se
tornou referência na área.
O Senai possui 518 unidades fixas no
Brasil, 504 unidades móveis e também sedes em países como Angola, Cabo Verde,
Guatemala, Paraguai e Timor Leste. Assim, a complexo é um dos cinco maiores
complexos de educação profissional do mundo, e o maior da América Latina.
O ingresso nos cursos são realizados
por meio de processo seletivo que avalia conhecimentos referentes ao ensino
médio. No entanto, a partir do próximo semestre o processo envolverá também uma
entrevista visando averiguar a vocação do candidato para a área à qual se
candidatou e seu potencial para pesquisa, desenvolvimento e gestão.
Texto: Julia Dolce / Brasildefato
Link da noticia: https://www.brasildefato.com.br/2016/06/30/formados-em-cursos-tecnicos-de-tecnologia-tem-crescimento-maior-no-mercado/
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