Foto: Paraíba Total. |
Entre a
Paraíba e o Rio Grande do Norte, Seridó alimenta sonhos de caçadores de minérios.
JOÃO MAURO
ARAÚJO
“Só
acredito que essa terra venha a ser rica quando suas pedras derem dinheiro”,
comentou em 1907 o futuro governador do Rio Grande do Norte e senador da
República José Augusto Bezerra de Medeiros em viagem a Acari, no interior do
estado. Ironicamente, pouco depois, o advento da 1ª Guerra Mundial confirmaria
de certo modo seu prognóstico, graças a uma incipiente exportação de mica –
mineral com várias aplicações industriais –, lavrada no lugar que algumas
décadas mais tarde seria chamado de Província Pegmatítica da Borborema-Seridó.
Essa faixa de terra na fronteira dos estados do Rio Grande do Norte e da
Paraíba, que abrange parte da borda ocidental do planalto da Borborema e as
microrregiões do Seridó, destaca-se geologicamente pela presença de pegmatitos
– rochas que abrigam diversos tipos de minerais metálicos de uso industrial e
gemas.
A
comercialização de mica do Seridó impulsionou a exploração de outros minerais
que serviriam, durante a 2ª Guerra Mundial, para suprir a demanda dos países
aliados. Tendo como principal comprador os Estados Unidos, foram extraídos
tantalita, columbita, berilo, cassiterita, scheelita, entre outras
matérias-primas destinadas à indústria bélica. O período testemunhou a vinda de
missões técnicas estrangeiras, empenhadas em estudar o potencial mineral da
região e garantir o máximo de extração em um curto espaço de tempo. Para tanto,
foram introduzidos na exploração mineral equipamentos pesados, medida que
contrariava o que estabelecia o Código de Minas de 1940.
Naquele
tempo, o garimpeiro Mário Leitão de Araújo passou por diferentes lavras do
Seridó. Órfão de mãe aos 6 anos de idade e de pai aos 8, Araújo começou a
trabalhar na mineração aos 13. Ele extraía fluorita, material empregado na
fabricação de aço e na fundição de ligas especiais e de outros metais. Seu
primeiro sucesso na garimpagem veio, no entanto, ao trabalhar para os
americanos numa jazida de scheelita, em Currais Novos (RN): “Eu ganhava 250
cruzeiros por semana, 1 mil por mês”, lembra. Ele conta que trabalhou muito também
como “marteleiro”, nome dado àqueles que se encarregam das explosões nas minas.
Na
década de 1940, poucas empresas brasileiras de mineração tentaram se
estabelecer no Seridó. O que prevalecia naquela época e ainda se vê na
atualidade é a exploração da mão de obra a baixo custo e em completa
informalidade. Além do garimpo, Mário Araújo trabalhou vários anos como
motorista, taxista e em outros ramos da mineração, além da compra e venda de
pedras. Seu semblante de garimpeiro antigo, ou “vaqueiro de pedra”, como ele
diz, revela orgulho não só por ter se mantido autônomo mas também por estar
vivo, depois de enfrentar lavras de até 200 metros de profundidade: “Nunca fui
empregado de ninguém, sempre trabalhei por minha conta”. Tranquilo, ele
apresenta uma a uma as pedras de sua coleção e aponta na parede o quase
sexagenário quadro de Nossa Senhora do Desterro, adquirido com o dinheiro de
duas semanas de garimpo.
Fonte:
SESCSP
Veja a
matéria completa em :http://www.sescsp.org.br/online/artigo/compartilhar/6018_A+ETERNA+BUSCA+DE+PEDRAS+E+ILUSOES
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